Diariamente Raniere percorre as ruas de Juazeiro do Norte pedindo ajuda para o sustento dos seus dois filhos, um deles com apenas 17 dias de vida. “Tive que sair para pedir comida porque lá em casa não tem nada”. Sem emprego ou qualquer outra fonte de renda, o jovem de 19 anos é a personificação de uma cruel estatística: com uma população estimada em 286.120 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem cerca de 49% da população enfrentando situação de pobreza. 

Atualmente Juazeiro do Norte é a terceira cidade do Ceará com o maior número de beneficiários do programa Bolsa Família, que é a principal política de assistência social do Governo Federal, ficando atrás apenas de Fortaleza e Caucaia. Neste mês de junho, o município teve 35.150 famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família, com 96.509 pessoas beneficiadas. O valor do auxílio é em média de R$ 688,48.   

Dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social apontam que das 74.191 famílias de Juazeiro do Norte inseridas no Cadastro Único do Governo Federal, 51.681 possuem renda mensal familiar de até meio salário mínimo. Desse total, 33.075 estão em situação de pobreza, ou seja, possuem renda familiar mensal per capita que varia entre R$ 105 e R$ 210. Em toda a região metropolitana do Cariri, cerca de 400 mil pessoas vivem em situação de vulnerabilidade social. 

Beneficiária do Bolsa Família, Maria da Conceição afirma que o valor do auxílio é insuficiente para pagar todas as despesas da casa. “Montei uma barraquinha de lanche para ter um trocadinho. Tem que pagar o aluguel e ainda faltam as coisas, aí a pessoa tem que se movimentar para ganhar algum dinheiro”, diz.  

Quarta maior economia do Ceará, de acordo com relatório divulgado pela Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado, Juazeiro do Norte possui um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4,8 bilhões. A cidade fica atrás apenas da capital, Fortaleza, que tem um PIB de R$ 65 bilhões, de Maracanaú, com R$9,8 bilhões, e de Caucaia, com R$ 7,2 bilhões. O desempenho, porém, contrasta com um elevado índice de pobreza. De acordo com o IBGE, o índice de Gini, que mede a desigualdade – quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade – alcançou a taxa de 0,518 em Juazeiro do Norte no ano de 2023. 

“Juazeiro é bom demais, é tão bom que eu vim para cá morar logo aqui. Mas também é um lugar muito difícil para a gente ter oportunidade, achar emprego” , afirma Cristina, 23 anos, mãe de uma criança de um ano, que mudou-se do Piauí para estar perto da família do seu marido, mas enfrenta dificuldades para encontrar emprego, enquanto seu companheiro vende produtos de porta em porta nas ruas da cidade. 

*Por serem pessoas em situações de vulnerabilidade social, a reportagem optou por alterar os nomes dos entrevistados, preservando suas identidades. 

Klébia Souza / Paulo Brito