Jair Bolsonaro deu largada à campanha presidencial de 2022. Nesta sexta-feira (13), o presidente veio à região do Cariri participar da cerimônia de entrega de casas populares na cidade de Juazeiro do Norte. Em discurso que durou 18 minutos, Bolsonaro atacou governadores e adversários políticos, anunciou que pretende aumentar em 50% o valor do Bolsa Família e disse defender os mesmos ideais do Padre Cícero: “nós continuamos defendendo a bandeira do Padre Cícero, sempre ao lado da família, defendendo a propriedade privada, a liberdade, Deus acima de tudo e combatendo o Comunismo”.

Embora tenha negado que a visita ao município de Juazeiro do Norte tivesse cunho eleitoral, o presidente discursou como candidato na cerimônia de entrega de 2.800 habitações populares do programa Casa Verde e Amarela. “Não estamos aqui em campanha, muito pelo contrário. Estamos num ato oficial, de extrema humanidade para atender aos mais necessitados”. Sem citar nominalmente seu princioal adversário político nas próximas eleições, o ex-presidente Lula, Bolsonaro disse que o dinheiro “ou desviado ou enterrado em obras inacabadas (da Petrobras) chega na casa de 230 bilhões de reais (…) Esse recurso daria para construir em torno de 2 milhões de casas próprias para nosso povo”.

Em ato oficial da Presidência da República, Bolsonaro fez campanha explícita para o deputado federal Capitão Wagner, derrotado nas últimas eleições municipais para Prefeitura de Fortaleza. “Eu não acho não. Eu tenho certeza: assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará brevemente terá um Capitão também”, conclamou o presidente. Capitão Wagner é um dos possíveis candidatos ao governo do Ceará com apoio do atual presidente.

Durante a cerimônia de entrega das casas, os apoiadores do presidente vaiaram o deputado federal Pedro Augusto Bezerra, hostilizado com gritos de “traidor” pelos bolsonaristas. Ao ouvir as vaias, Bolsonaro declarou que “as manifestações vindas do povo são sempre bem vindas”. O parlamentar, que é filho do ex-prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra, integra a base de apoio do governador Camilo Santana no Ceará. A solenidade também foi marcada por críticas aos governadores: “muitos governadores, como este deste Estado (Ceará), simplesmente ‘mandou’ fechar o comércio, decretou lockdowns, confinamentos e toque de recolher. Essas medidas foram, além de impensadas, muito mal recebidas pela população”, disparou.

A intensificação da agenda de Bolsonaro em cidades da região Nordeste ocorre no momento em que o presidente vê despencar seus índices de popularidade. Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 54% dos brasileiros apoiam a abertura do processo de Impeachment contra o presidente. Outra pesquisa, realizada pelo Atlas Político entre os dias 26 e 29 de julho, aponta que a rejeição de Bolsonaro atingiu o maior patamar desde que ele assumiu o cargo, chegando a 62% em todo o Brasil e a 73% no Nordeste. O atual presidente também aparece atrás do ex-presidente Lula em todas as simulações para a disputa eleitoral do ano que vem. Esta semana, Bolsonaro também viu o Congresso Nacional sepultar uma de suas bandeiras políticas. Na última terça-feira (10), a Câmara dos deputados rejeitou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que visava uma modificação no sistema eleitoral onde o voto impresso entraria novamente em vigor.

Bolsonaro entra em lista de “predadores da liberdade de imprensa”

Enquanto vê sua popularidade despencar no Brasil, internacionalmente, a imagem de Jair Bolsonaro segue em queda livre. O presidente brasileiro foi incluído pela primeira vez na lista de “predadores da liberdade de imprensa” divulgada pela Organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), publicada em julho. Essa lista é composta por 37 chefes de Estado que impõem repressão à liberdade de imprensa, dentre eles o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, o presidente da Coreia do Norte Kim Jong-un, e o presidente da China, Xi Jinping. O presidente brasileiro se destaca no relatório por seus “insultos, xingamentos, humilhações e ameaças vulgares.”

Segundo levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) dos 428 casos de ataques à imprensa brasileira durante a pandemia, 152 (35,51%) foram de discursos que buscavam desqualificar a informação jornalística. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 145 casos de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais, e outros 26 registros de agressões verbais, duas ameaças diretas a jornalistas e dois ataques à FENAJ, totalizando 175 casos, o que corresponde a 40,89% do total.

Texto: Edwin Carvalho e Geneuza Muniz / Agência Cariri