As mudanças de rotina e as restrições impostas pela pandemia de Covid-19 estão adoecendo os estudantes universitários brasileiros. Pesquisa realizada pela Universidade São Judas, de São Paulo, e a Universidad Del Sur, no Peru, aponta que 7 em cada 10 jovens universitários brasileiros tiveram a saúde mental afetada durante a pandemia. A pesquisa, que mediu os índices de depressão, ansiedade e estresse dos acadêmicos nos dois países entre os meses de junho e agosto de 2020, constatou índices alarmantes: 77,4% dos jovens apresentaram quadros de ansiedade, 76,6% tiveram sinais de estresse e 66,5% possuíam graus moderado a grave de depressão. 

Segundo a psicóloga da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Yane Ferreira, a  ansiedade é um transtorno frequente na vida dos universitários, sendo agravado com a implementação do ensino remoto. “As queixas são bastante diversas, mas a ansiedade, estresse, cansaço mental, mudanças de humor (principalmente humor deprimido, tristeza e depressão) já eram as mais frequentes e se mantém nesse período pandêmico. Há ainda maior volume de queixas relacionadas à desmotivação, dificuldade de adaptação com o ensino remoto, problemas familiares e luto, que tem emergido com maior intensidade nesse período da pandemia”, afirma. 

A Agência Cariri realizou um levantamento sobre os impactos da pandemia com 34 alunos do curso de Jornalismo da UFCA. Dos estudantes entrevistados, 67,6% relataram que  tiveram piora na saúde mental durante a pandemia de covid-19. Ainda nessa pesquisa, 58,8% dos futuros jornalistas mencionaram ter algum tipo de transtorno psicológico. Dentre os transtornos citados pelos alunos, a ansiedade ocupa a primeira colocação, seguida por depressão e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Jornalismo  é um dos quatro cursos de graduação da UFCA com maior número de registros de estudantes à procura por acompanhamento psicológico, junto de Medicina, Engenharia Civil e Agronomia. 

Para a aluna do sexto semestre de Jornalismo, Mônica Figueiredo, a dificuldade de adaptação ao ensino remoto têm sido um fator de estresse. “As aulas online são desafiantes, trabalho o dia todo, chego em casa esgotada e já tenho que ligar na aula, muitas vezes, por não ter um local adequado para estudar, tenho dificuldade de concentração. Não consigo entender a matéria, não consigo entregar os trabalhos por falta de tempo, o que me faz sentir improdutiva”. A estudante enumera outros fatores que têm impactado sua saúde mental: “Minha ansiedade piorou consideravelmente nessa pandemia. Ter que lidar com o medo de ser infectada, com o luto constante e  essa adaptação de tarefas corriqueiras a uma nova realidade, não tem sido fácil”.

O levantamento da Agência Cariri aponta que, dos alunos entrevistados que disseram que fazem algum tipo de acompanhamento psicológico, 50% deles recorrem aos serviços de suporte oferecidos pela UFCA. A instituição dispõe de diversos meios de suporte, que vão desde atendimentos individuais até atividades em grupo. Segundo Yane, houve uma crescente na procura por atividades coletivas: “Além dos atendimentos individuais, que costuma ser a maior demanda do serviço, registramos um aumento significativo nas solicitações por atividades coletivas/grupais (rodas de conversa, lives, palestras, entrevistas, reuniões com a comunidade acadêmica desde colegiado de professores, programas de educação tutorial, empresa júnior, secretaria de acessibilidade, entre outros), além da produção de materiais psicoeducativos, como cartilhas, podcasts, cards e outros”.

No caso da UFCA, o estudante que sentir a necessidade de ajuda psicológica deve encaminhar uma mensagem para o e-mail correspondente ao campus que estuda. Cada aluno acompanhado recebe em média até cinco atendimentos por período letivo. O serviço abrange aconselhamento psicológico e profissional, escuta psicológica e grupos de promoção à saúde mental. Outras informações pode ser consultadas pelo link (https://www.ufca.edu.br/assuntos-estudantis/atendimento-psicologico/). 

Texto: Clara Lyz e Luana Torres / Agência Cariri