Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, é importante refletir sobre os desafios enfrentados por muitas mulheres, que encaram jornadas duplas, e até triplas, para conciliar múltiplos papéis impostos a elas pela sociedade. Dados do estudo “Outras Formas de Trabalho”, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, apontam que a população com 14 anos ou mais de idade dedica em média 17 horas semanais aos afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas. As mulheres dedicam, em média, 21,3 horas por semana a essas tarefas, enquanto os homens dedicam em torno de 11,7 horas semanais.
Amanda Braga, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri (UFCA), exemplifica esses desafios diários. Natural do município de Iguatu, Amanda, que é mãe, estudante, trabalhadora e dona de casa, enfrenta uma jornada extenuante para alcançar seus objetivos profissionais. Decidida a realizar seu sonho de cursar Jornalismo, ela conta que mudou-se para Juazeiro do Norte após a gravidez. “Saio de minha cidade todo domingo à noite para estudar”, relata.
Durante a semana, a avó de sua filha assume os cuidados, constituindo-se como sua principal rede de apoio. Amanda destaca que retorna a Iguatu todo sábado para se dedicar integralmente à sua filha, afazeres domésticos e cuidados com a saúde, incluindo visitas ao dentista e médico, atividades que, durante a semana, se tornam quase impossíveis de conciliar.
Para e professora Amanda Teixeira, que leciona no curso de Jornalismo da UFCA, as pressões sobre as mulheres aumentam com a maternidade. “Senti muito mais pressões pelo fato de ser mulher após a maternidade e isso não tem a ver exatamente com ter filhos, mas com as responsabilidades que a sociedade diz que cabem somente à mulher. Carregamos uma série de culpas e responsabilidades que nos são introjetadas”, afirma.
Mãe de uma criança de seis anos, a professora da UFCA precisa cumprir uma rotina exaustiva, que começa cedo pela manhã, quando precisa deixar seu filho na escola, e se estende até o fim da noite (dá aulas nos turnos vespertino e noturno). “Vivemos em um país que não permite conciliar o tempo de escolas dos nossos filhos com a jornada de trabalho. Se eu trabalhar integralmente à tarde e à noite, não vejo meu filho em nenhum turno. Preciso terceirizar estes cuidados dele quando não está na escola, para outra mulher, seja uma avó ou uma babá”, lamenta.
Com os cuidados com a casa e os filhos totalmente transferidos para a mãe, enquanto as homens geralmente ficam só com a jornada de trabalho, é comum que mulheres tenham desempenho acadêmico prejudicado. A professora Amanda, por exemplo, diz que não vai a congressos científicos desde que seu filho nasceu “porque isto demandaria uma estrutura muito grande de pessoas que deveriam fazer as atividades que eu faço cotidianamente. Muitas vezes também não consigo participar de eventos à noite porque é um horário que ele não está na escola”.
Tatiele Leite / Agência Cariri
Deixe uma resposta