As rodas culturais Batalha do Cangaço e Batalha da Cascavel estão promovendo uma arrecadação de alimentos a serem distribuídos para pessoas em vulnerabilidade social na região do Cariri cearense. Os alimentos estão sendo recebidos nos dias que as rodas culturais acontecem: na Batalha da Cascavel, as doações ocorreram na quarta-feira (1), às 19h, na Praça do Giradouro, em Juazeiro do Norte. Nesta sexta-feira (3), às 19h, a Batalha do Cangaço recebe donativos na praça do Memorial Pe Cícero, também no município. A iniciativa surgiu do desejo de ajudar o próximo, ao mesmo tempo em que permite à população conhecer mais sobre o movimento, contribuindo para quebrar o preconceito em torno da Cultura de Rua.
Originadas em Nova York nos anos 70, as Batalhas de Rima, como são conhecidas as rodas culturais, são encontros tradicionais da cultura Hip-hop que se consolidam cada vez mais no Brasil. Hoje o país conta com diversas Rodas Culturais, dentre elas a Batalha da Aldeia, uma das mais conhecidas, que possui mais de 3,5 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. Na região do Cariri, um dos grupos mais atuantes é a Batalha do Cangaço. Criada há seis anos, a Roda conta atualmente com 16 Mc’s e acontece semanalmente na praça do Memorial. A Batalha já revelou nomes importantes para a cena do RAP, como o Mcharles, Juazeirense de 24 anos, que já conquistou muitos títulos, sendo um deles o Duelo Nacional de Mc’s de 2019, a competição mais importante para o RAP Nacional. Mandacaru também foi uma das revelações e hoje é um dos principais nomes do Ceará. O Mc de 21 anos será o próximo representante cearense no Duelo Nacional de Mc’s.
Apesar de ainda ter muitos estereótipos negativos em torno das Batalhas, as rodas vêm quebrando barreiras e conquistando seu espaço. Mc Ariano, um dos fundadores da Batalha do Cangaço, em entrevista à Agência Cariri, falou sobre os preconceitos e dificuldades enfrentadas no início da criação da Roda no Juazeiro: “depois de conseguir um bom público, a questão mais difícil foi a polícia, que às vezes ia para batalha e dava “baculejo” e mesmo não achando nada, muitas vezes eles retornavam e isso acabava atrapalhando. Às vezes por questão de denúncia, porque as pessoas não entendiam o que era o movimento”. No entanto, Ariano comenta que com o tempo a Batalha do Cangaço passou a ser mais aceita e que “hoje em dia é normal, a polícia quase não “cola” e os últimos que foram lá aplaudiram o nosso movimento e disseram que admiravam a nossa coragem de fazer o movimento acontecer”.
As Rodas Culturais são espaços que permitem expressão artística, compartilhamento de pensamentos, além de promoverem debates de assuntos importantes para a sociedade, como dito por Mandacaru, em entrevista cedida à Agência Cariri: “é um meio de entretenimento gratuito que pode servir de válvula de escape para os estresses semanais, e como mc, faz com que o jovem queira ser melhor intelectualmente a cada dia, buscando referências, exercitando criatividade, raciocínio lógico e assuntos mundanos.
A quebra dos preconceitos se confirma quando essas manifestações culturais se fazem presentes em espaços educativos. “Já fizemos apresentações em diversas escolas, como no Moreira de Sousa, nos apresentamos de sala em sala no José Bezerra e em outras escolas fora do Juazeiro”, afirma Ariano. Mandacaru lembra que foi em uma dessas apresentações em colégio que conheceu o movimento na região do Cariri: “Não imaginava que havia por aqui na região até que um dia a Batalha do Cangaço foi realizar uma batalha na escola que eu estudava, então eu conheci o movimento daqui Juazeiro e os mc’s”.
Texto: Clara Lyz / Agência Cariri
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