Uma das mais jovens universidades públicas brasileiras completou dez anos de existência. Criada em 5 de junho de 2013, a Universidade Federal do Cariri (UFCA) segue bem avaliada pelo Ministério da Educação (MEC), com nota 4 no Índice Geral de Cursos (IGC), que vai de zero a cinco.  A instituição também conseguiu diversificar a oferta de cursos e dobrar o número de estudantes matriculados neste período. Porém, passada a primeira década, a maior universidade do interior do Ceará se vê diante de alguns desafios, com garantir a permanência dos alunos na graduação, o difícil acesso aos campi e os cortes orçamentários dos últimos anos.

Questionado pela Agência Cariri (confira a entrevista na íntegra) sobre os principais desafios que a UFCA terá de superar nos próximos anos, o reitor da instituição, professor Silvério de Paiva Freitas Júnior, apontou a recomposição do orçamento como o maior deles. “Em 2014 (primeiro ano em que a UFCA passou a contar com recursos próprios), o orçamento anual era de quase R$ 35 milhões. Em 2023, o nosso orçamento é de R$ 31 milhões. Acontece que, em 2014, a UFCA tinha em torno de dois mil estudantes e pouco mais de 300 servidores. Hoje são mais de quatro mil estudantes e em torno de 600 servidores”, destaca.

Segundo o reitor, o atual orçamento da UFCA, além de defasado, não permite investimentos essenciais em infraestrutura, como a construção do hospital universitário, a ampliação da biblioteca e das instalações físicas dos campi. “Praticamente 85% do orçamento de custeio da universidade é para cobrir despesas de contratos contínuos da universidade como os pagamentos dos contratos de limpeza, vigilância e manutenção”, comenta. Para reverter este quadro, Silvério Júnior explica que a universidade tem buscado apoio da bancada cearense no Congresso Nacional para obtenção de emendas parlamentares destinadas à instituição. 

Realizando um comparativo em números, no ano de 2013 a UFCA oferecia 12 cursos de graduação e possuía um total de 2.124 alunos e 322 servidores. Atualmente, a instituição  e totaliza 30 cursos de graduação e 21 cursos de pós-graduação, distribuídos entre os campus de Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Brejo Santo e Icó, que juntos somam 4.041 alunos matriculados, além de 648 servidores. Em 2022, a universidade também criou o Centro de Educação à Distância que, somente em 2023 está ofertando 910 em cinco cursos na modalidade EaD.

De acordo com um levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 88% das universidades federais tiveram prejuízos milionários após o corte de 7,2% no orçamento feito pelo governo federal em 2022. Em fevereiro deste ano a Andifes encaminhou ofício ao Ministério da Educação demonstrando preocupação com o novo corte em 2023: o orçamento para as universidades caiu 8,11% em relação ao do ano passado.

Combater a evasão e garantir a permanência dos estudantes são metas

Crédito: Isabel Felix

Nas universidades há um ditado comum entre os estudantes que diz que “mais difícil que entrar é sair”. Brincadeiras à parte, a evasão escolar no ambiente universitário é uma realidade também na UFCA. Uma das alternativas encontradas pela instituição para permitir a permanência e diplomação dos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica são os auxílios de assistência estudantil. Atualmente a universidade dispõe de 12 tipos de auxílios financeiros garantidos através da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), entre eles o de mobilidade acadêmica, moradia, emergencial, saúde menstrual, tecnologia assistiva, auxílio-creche, alimentação, transporte, óculos, inclusão digital e auxílio financeiro a eventos.

No decorrer dos seus dez anos de existência, a UFCA já formou 2.876 estudantes nas mais variadas áreas de atuação, entre elas da Administração, Biblioteconomia, Medicina e Jornalismo. Muitas destas formações foram concluídas com o apoio dos auxílios estudantis relacionados à manutenção da permanência dos estudantes na instituição. Dados do Relatório de Gestão da UFCA apontam que, no último ano, “1.553 auxílios de assistência estudantil concedidos, dos quais 35 se referem ao auxílio menstrual e dois ao auxílio para mobilidade acadêmica, ambos implementados em 2022”. Além dos auxílios, a UFCA oferece refeições subsidiadas, a baixo custo, diariamente, em seus Refeitórios Universitários (RU).

De acordo com a assistente social da UFCA Joseane Gomes de Sales, um dos principais desafios atuais da universidade é manter todos os auxílios com um orçamento menor. “Quando eu entrei em 2014, eu lembro que era inclusive muito fácil de gerir recursos na universidade, porque para aquela época e o número de estudantes que estavam matriculados e beneficiados era muito menor, então o recurso era bem mais fácil para beneficiar estudantes”. Ela pontua qual a influência dos cortes orçamentários nos auxílios oferecidos pela UFCA: “todos os auxílios estudantis dependem desse recurso. Então, havendo criação de recursos, a gente consegue ampliar tanto o número de programas como beneficiar maior número de alunos”.

Joseane explica que, mesmo com os cortes orçamentários, agravados nos quatro anos do governo Bolsonaro, a UFCA manteve o pagamento dos auxílios estudantis. “É um desafio para a gente fortalecer cada vez mais o para que os auxílios se tornem uma política, exigida como um direito. Então lutar por uma assistência estudantil forte é lutar para que ela se torne direito, para que haja ampliação de recursos”.

Aluna do oitavo semestre do curso de Jornalismo, Luana da Silva Torres ressalta que os auxílios transporte, digital e alimentar fizeram diferenças na sua vida acadêmica “Por ser uma pessoa de baixa renda, qualquer ajuda é bem vinda, então por meio do auxílio transporte consegui garantir a minha ida para a faculdade, um valor significativo que já ajudava muito. Outro ponto foi o auxílio inclusão digital que também ajudou a comprar meu notebook novo que eu uso hoje para fazer os trabalhos da faculdade”. Durante a pandemia, ela lembra, o auxílio de segurança alimentar pago pela universidade foi fundamental para ajudar a família.

Biblioteca e transporte público estão entre maiores problemas relatados

Crédito: Isabel Felix

Nos últimos anos, a UFCA mais que dobrou o número de cursos de graduação. No entanto, a instituição ainda possui um acervo bibliotecário escasso para abranger de forma literária a demanda dos cursos oferecidos. Em entrevista à Agência Cariri, o reitor Silvério Júnior reconheceu a necessidade de ampliação do acervo e anunciou a construção de uma nova biblioteca central como uma das prioridades da atual gestão. “Precisamos melhorar o acervo bibliográfico e já estamos junto com o Sistema de Biblioteca da UFCA (SiBi) para melhorar e aumentar o acervo físico e digital contratando plataformas digitais. Temos o foco de construir uma estrutura maior no campus de Juazeiro que atenda a demanda dos estudantes e inclua a comunidade também neste espaço”

Alguns dos maiores desafios que a UFCA precisa superar nos próximos anos são externos à universidade. Um deles é o acesso por meio de transporte público. O número reduzido de linhas de ônibus que vão até a UFCA provoca lotação e caos para os estudantes que dependem do serviço. No campus de Juazeiro do Norte, que abrange a maior parte dos cursos da UFCA, são oferecidas somente três linhas de ônibus com acesso à universidade, com horários bastante reduzidos.

Para o reitor da UFCA, o transporte público é “um problema crônico”. Silvério Júnior afirma que a universidade vem mantendo diálogo com as prefeituras, no sentido de que haja uma melhora na oferta de linhas de ônibus até a instituição. “O que a gente pode fazer é realmente junto às prefeituras conversar e tentar pedir que realmente eles se sensibilizem com a situação dos nossos estudantes, que educação nunca é um custo para qualquer órgão público. Educação sempre é investimento. O estudante que sair de Exu, Barbalha, Juazeiro ou outro campus, com certeza vai voltar para o seu município e trazer benefícios para a cidade”, diz.

Isabel Felix e Érica Pessoa / Agência Cariri