Desde o dia 9 de agosto, as escolas estaduais do Ceará estão autorizadas a ofertar o ensino híbrido. Na região do Cariri, o decreto do Governo do Estado que autoriza o retorno gradativo das aulas presenciais para os estudantes do ensino médio na rede pública de ensino está dividindo opiniões. De acordo com o vice-presidente regional do Sindicato dos Servidores Públicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará (APEOC), Samuel Siebra, o Sindicato está fazendo vistorias nas escolas da região do Cariri e observando as condições sanitárias de cada município da região. 

Segundo o representante sindical, é fundamental, para que haja a transição para o ensino híbrido (intercalando aulas nos formatos remoto e presencial), “o debate com a comunidade escolar para que o retorno garanta a segurança para alunos, professores e os pais”. A Secretaria Estadual de Educação afirmou em nota que cada escola tem autonomia para decidir se continuará ou não com o ensino remoto. A autonomia escolar está garantida pela portaria nº 0057/2021 publicada em 27 de janeiro de 2021. Fica a critério também dos alunos e pais decidirem pelo retorno, sendo garantida a possibilidade de estudos remotos mesmo que o estabelecimento opte por retomar ao presencial. 

Entre professores, estudantes e pais de alunos, a volta presencial às aulas está longe de consenso. Para Denise Rodrigues Camelo, moradora da cidade de Barbalha, mãe de uma estudante do segundo ano do ensino médio,  o retorno é motivo de preocupação. “Ainda fico com receio de mandar minha filha para aula, pois os professores estão vacinados mas os alunos não. Haverá momentos em que ela vai precisar tirar a máscara. Nisso tem o risco de se contaminar.” Sobre o modelo híbrido ela diz: “acredito que a escola tem estrutura sim, mas fica muito puxado para os professores. Seria melhor que escolhessem um ou outro.”

Aluna do terceiro ano do ensino médio, Eva Lucena afirma ser “100% contra” a volta das aulas presenciais. “Nem todos os professores tomaram as duas doses, praticamente nenhum aluno foi vacinado, há estudantes que têm comorbidades e podem não ficar somente assintomáticos caso peguem a covid-19, fora que além de contrair o vírus também vão levar para casa. Então a chance do retorno presencial dar certo é zero”,  avalia. Outro temor mencionado por pessoas ouvidas pela Agência Cariri é a confirmação do primeiro caso de transmissão comunitária da variante Delta no Estado do Ceará.

As aulas foram interrompidas em março de 2020, totalizando 16 meses sem aulas presenciais na rede estadual de ensino. Dados do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas (Unicef) apontam que, apenas no ano de 2020, o Ceará registrou 135.069 crianças e adolescentes entre seis e 17 anos de idade fora da escola, um acréscimo de 170% se comparado ao ano anterior (2019), quando a evasão escolar atingia 49.900 alunos. 

Escolas particulares

Na maior cidade do Cariri, Juazeiro do Norte, a rede particular de ensino vem adotando o modelo híbrido desde janeiro deste ano. O coordenador pedagógico do Colégio Salesiano São João Bosco, Marcos Manoel afirma que “o grande desafio tem sido a conscientização para que os protocolos e cuidados sejam mantidos de forma rigorosa, protegendo a todos. Diversas campanhas têm sido implementadas pela escola em parcerias com instituições de ensino superior para orientarmos pais, alunos e colaboradores”. 

Texto:  Geneuza Muniz / Agência Cariri