O Ceará é o terceiro Estado do Nordeste e o sétimo do Brasil em número de pessoas que precisam de transplantes de órgãos. De acordo com a lista de espera divulgada diariamente pelo Ministério da Saúde, 1.790 pessoas aguardam neste momento por algum tipo de transplante em municípios cearenses, sendo 1.060 homens (59%) e 730 mulheres (41%). Deste total, 1.462 precisam de um novo rim. Em seguida vem a demanda pelo transplante de fígado, cuja fila de espera é de 286 pessoas.

Em todo o ano de 2023, a Central de Transplantes do Ceará realizou 458 procedimentos. Outras 135 pessoas receberam um novo órgão em 2024. Um dos novos cearenses transplantados é Rosário Amorim, que em 18 de março recebeu o rim da esposa, Luana Gouvêa. O casal se conheceu em 2009, sem imaginar os desafios que enfrentariam juntos. Com suas famílias já estabelecidas, há quatro anos, ele descobriu que sofria de insuficiência renal crônica e começou imediatamente as sessões de hemodiálise.

“Foi aí que começou nossa luta pelo transplante. Na primeira consulta, perguntei ao médico o que precisaria fazer para ser doadora. Sempre estive certa e segura de que daria certo”, relata Luana, que atualmente é vereadora em Barbalha e estudante na área da saúde. Ela explica que fez os testes de compatibilidade e, após 30 dias, recebeu a notícia que era compatível. A partir daí, o casal iniciou uma série de exames.

Em 14 de março deste ano, Rosário e Luana receberam uma ligação confirmando que tudo estava pronto e a cirurgia estava marcada para alguns dias. “Meu coração estava aflito, muitos pensamentos passavam pela cabeça. Apesar do medo e da insegurança, por incrível que pareça, sentia-me calma e confiante”, diz Luana. No dia 17 do mês passado, os dois deram entrada juntos no Hospital Geral de Fortaleza. “Ficamos no mesmo quarto e pude ver os olhos dele marejados, mas com a certeza de que tudo daria certo”, afirma Luana.

O transplante ocorreu no último dia 18 de março e ambos tiveram uma recuperação excelente. Luana teve alta da UTI no segundo dia, sendo transferida para a enfermaria e, após dois dias, recebeu alta. Rosário permaneceu internado por cerca de duas semanas, continuando sua recuperação. Doadora de órgãos, Luana incentiva outras pessoas a deixarem registrada sua intenção de doar.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde revelam um aumento de 17% nas doações de órgãos em 2023, em comparação com o ano anterior, impulsionando o maior número de transplantes em uma década. O Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, com 95% dos procedimentos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Ceará, a Central de Transplantes é composta por 62 hospitais, entre públicos, privados e filantrópicos. Nenhum transplante é realizado na região do Cariri.

Para quem deseja ser um doador de tecidos e órgãos que não podem ser doados em vida, como o coração, a recomendação do Ministério da Saúde é avisar aos familiares. No Brasil, a doação e retirada de órgãos e tecidos precisa ser autorizada pela família e somente após confirmado o diagnóstico de morte encefálica. Ainda que a pessoa expresse em vida que pretende ser um doador, cabe à família aceitar ou não que seja feita efetivamente a doação.

Renais do Cariri reivindica volta dos transplantes e sede própria

Aroldo Barbosa criou a Renais do Cariri, há 21 anos, e luta por sede própria. Foto cedida.

Em 2024, o Cariri completa oito anos sem realizar transplantes de órgãos, obrigando os pacientes de municípios caririenses a realizarem o procedimento a centenas de quilômetros de distância, na capital, Fortaleza. A volta dos transplantes na região é uma das principais reinvindicações da Associação dos Amigos e Pacientes Renais do Cariri, que completou 21 anos de existência neste mês de abril. A entidade, que funciona com a contribuição dos associados e da comunidade, é referência no apoio a pacientes transplantados e em hemodiálise, além de realizar ações de incentivo à doação de órgãos e prevenção de doenças renais.

A Renais do Cariri foi fundada em 1º de abril de 2003, pelo diretor da entidade, Antônio Aroldo Barbosa, que é transplantado há 24 anos. “Nessas mais de duas décadas, temos pedido às autoridades locais e gestores uma sede para a associação”, explica. Ele ressalta que a cada ano que passa torna-se mais difícil atender à demanda, pois, quando o projeto foi iniciado, a sede era apenas uma casa simples para atender ao público, realizar reuniões e receber pacientes. “Hoje não é mais assim, temos um consultório odontológico e o projeto de uma clínica Centro de Referência às Doenças Renais, que já conta com dois consultórios prontos e precisa de mais dois. Precisamos de um espaço próprio”, relata.

Há oito anos, a população do Cariri contava com a Unidade de Tratamento de Pacientes Renais do Crato, que também recebia demandas de municípios dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Piauí. Desde a suspensão das cirurgias de transplante na região, a Renais do Cariri vem oferecendo transporte médico até a capital, além de hospedagem e alimentação para pacientes e familiares. A entidade também oferece diariamente serviços de saúde e acompanhamento profissional a pessoas em tratamento por insuficiência renal. 

Além da casa que abriga a entidade, no bairro Santo Antônio, em Juazeiro do Norte, a Renais do Cariri conta com uma casa de apoio em Fortaleza, totalmente financiada com a ajuda dos próprios pacientes e da associação. “Damos total apoio ao paciente renal e na proteção a ele, para que chegue rapidamente à fila de espera por um transplante e que também possa fazer os exames a serem realizados e contar com a logística para que o transplante ocorra”, enfatiza Aroldo.

Tatiele Leite e Edwin Carvalho / Agência Cariri