Professores da Universidade Federal do Cariri entram em greve a partir desta segunda-feira (15) por tempo indeterminado, unindo-se aos servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAEs), que já estavam paralisados desde 20 de março. Essa ação conjunta resultou na interrupção de quase todas as atividades na UFCA, incluindo não apenas as aulas, mas também grande parte das rotinas administrativas da instituição. 

Um dos impactos da paralisação dos servidores da UFCA é a suspensão temporária de diversos processos seletivos, como os editais para mudança de curso, transferência voluntária, admissão de graduados e das etapas do Sistema de Seleção Unificada (SISU) para o ano de 2024. De acordo com a pró-reitora de graduação, Polliana Luna, a decisão de suspender os processos seletivos se deu pela falta de pessoal para realizar os procedimentos administrativos, em vista da greve dos TAES.

No caso específico do SISU, a suspensão afeta todos os candidatos aprovados, inclusive aqueles convocados na chamada regular, uma vez que ainda precisam realizar a confirmação presencial de matrícula. Em comunicado oficial, a UFCA afirma que o processo não tem previsão de data para ser retomado devido à incerteza do tempo de paralisação dos TAE’s e que novas datas só serão informadas após a retomada de todos os serviços administrativos.

A UFCA vem utilizando seus canais de comunicação (site oficial e redes sociais) para anunciar quais serão os próximos passos da instituição durante a greve, de serviços essenciais a processos seletivos paralisados. Porém, a falta de informação direta aos selecionados no SISU tem deixado alguns candidatos apreensivos. A estudante Fernanda Dominique, que ingressaria na UFCA em maio, afirma estar ansiosa e confusa com a situação. “Sabia por alto que iria ter paralisação, pelo Instagram. Imaginei que receberia algo por e-mail, mas nada até agora. A única coisa que chegou aos nossos e-mails foram apenas as datas anteriores de convocação, matrícula e heteroidentificação”, comenta a jovem que reside em Salgueiro, Pernambuco, e está na lista de aprovados para o curso de Administração.

A Pró-reitora de Graduação da UFCA tranquiliza os candidatos e assegura que todos os aprovados na chamada regular do SISU têm garantida sua convocação para matrícula. Ela também confirma que aqueles candidatos que ainda estavam sendo selecionados para segunda convocação para pré-cadastro também irão participar das etapas seletivas pendentes. “Tão logo voltemos à normalidade das atividades administrativas retomaremos as etapas pendentes. A entrada de todos os aprovados se dará na UFCA juntos, ainda que possa haver um atraso no cronograma. Lembrando que há cursos de dupla entrada, assim será respeitada a previsão de ingresso de cada curso definido no edital, após o fim do processo seletivo”, explica Polliana Luna.

Em acordo firmado com a Reitoria, o Comando Local de Greve (CLG) dos TAEs estabeleceu uma série de serviços essenciais que serão mantidos durante a paralisação. Entre eles estão o pagamento de salários de servidores, auxílios e bolsas estudantis cujos processos de concessão foram concluídos até a data de deflagração da greve (20 de março), perícias médicas e serviços de verificação de óbito. Também está assegurado o funcionamento restrito do Refeitório Universitário (RU) apenas para atendimento prestado pelas empresas terceirizadas e limitado à comunidade interna da UFCA. Já os diplomas de graduação e pós-graduação só serão emitidos com justificativa de urgência, analisada, caso a caso, pelo comando grevista.

Restaurante universitário é essencial nas políticas de permanência dos alunos na UFCA. Foto: Paulo Brito

Outros serviços, considerados não essenciais pela categoria, estão suspensos. A estudante de Jornalismo, Francisca Ayanny, teme que a interrupção do serviço de transporte para realização de atividades acadêmicas inviabilize a participação de um grupo de alunos do curso para representar a universidade em congresso regional que será realizado em Natal (RN), no mês que vem. Segundo ela, apesar de todo o grupo entender e apoiar as demandas da greve, existe um sentimento de frustração com a possibilidade de não participação no evento. Em situações como esta, o comando de greve orienta os discentes a entrarem em contato diretamente com os representantes dos TAEs para solicitar a prestação de um serviço considerado inadiável. Cada pedido é avaliado individualmente pelo comando grevista.

Reinvindicações dos TAEs e docentes vão além do reajuste salarial

Assembleia dos TAEs contou com recorde histórico de participação, com 60% dos servidores da UFCA presentes . Foto: Reprodução/SINTUFCE

Os servidores docentes e técnicos têm reivindicações abrangentes, que vão além dos reajustes salariais, como a recomposição do orçamento das instituições federais de ensino, a ampliação dos recursos para assistência estudantil, a realização de concurso público para reposição dos quadros, a melhoria das condições de trabalho e a reestruturação das carreiras de ambas as categorias. A greve dos servidores da Universidade Federal do Cariri faz parte uma onda de paralisações que impacta diretamente o ensino superior no Brasil. Nesta segunda-feira (15), além da UFCA, professores de outras 19 universidades e institutos federais em todo o país também aderiram à paralisação nacional. No Ceará, todas as instituições federais de ensino superior aderiram à greve.

As negociações entre os sindicatos e o governo tiveram início em julho de 2023, com as categorias reivindicando um reajuste de 39,92% para compensar as perdas salariais desde 2010. No entanto, o governo só apresentou uma contraproposta em dezembro do mesmo ano, oferecendo 0% de reajuste em 2024 e 9% a serem divididos entre 2025 e 2026. Após longas discussões, os sindicatos propuseram um reajuste de 22,71%, a ser dividido igualmente entre os anos de 2024 e 2026. Em fevereiro deste ano, o governo manteve sua proposta. O insucesso das negociações fez com que o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (Adufc-Sindicato) e o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (SINTUFCe) dessem início aos processos para deflagração de greve: os TAEs paralisaram suas atividades em 20 de março e nesta segunda-feira (15) os professores se juntaram a eles. A última rodada de negociações aconteceu em 10 de abril, quando novamente as entidades sindicais tiveram suas solicitações salariais ignoradas pelo governo, que se manteve firme na proposta de reajuste zero para 2024. Hoje, o comando geral da greve dos professores se reuniu em Fortaleza. Nesta terça-feira (16), o comando local irá se reunir em Juazeiro do Norte para discutir os próximos passos da paralisação.

Paulo Brito  / Agência Cariri