Desde março de 2020, com o início do distanciamento social no Cariri, a queda na renda mensal das profissionais do sexo e a necessidade de se proteger da covid-19 fez com que essas mulheres adotassem novas medidas em busca de estabilidade financeira. Seguindo as orientações das Associações de Trabalhadoras do Sexo espalhadas pelo país, uma parcela das prostitutas da região migrou para o atendimento online. Agora, seus serviços são focados na venda de fotos e vídeos íntimos em sites de prostituição, e também em chamadas ao vivo através de plataformas como Google Meet e Whatsapp. A Agência Cariri entrou em contato com 15 mulheres em situação de prostituição nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. À pedido das entrevistadas, seus nomes e contatos serão preservados.

Consideradas profissionais autônomas, por não possuírem carteira de trabalho ou qualquer vínculo empregatício, as mulheres que dependem do sexo para sobreviver, se viram desesperadas com a notícia da necessidade do distânciamento social. “A primeira coisa que pensei foi em continuar nas ruas, não via outra opção, eu sou uma bicha trans, ninguém quer me dar emprego, ou continuava lá ou morria de fome”, comenta M.A, de 26 anos. Segundo ela, somente meses depois, ao conversar com outras colegas de trabalho, surgiu a ideia de buscar plataformas online. “Falei para minha amiga: se todo mundo está de home office, por que não podemos também? Tem gente que busca por sexo na internet, não custa tentar”, afirma.

O espaço virtual para a maioria das prostitutas era um ambiente novo. Somente três das quinze entrevistadas já atuavam com a venda de fotos e vídeos nas redes. “Nunca pensei em fazer sexo virtual, é estranho né? Mas foi o jeito, faço tudo do celular mesmo porque não tenho computador. Não tive nenhuma dificuldade, é só tirar foto, gravar e botar o número na internet.”, relata S.F, 35 anos, moradora de Juazeiro do Norte. Apesar do desconhecimento inicial das plataformas, elas dizem não ter tido dificuldades para cadastro e divulgação nos sites.

Diferente do que era arrecadado por programa nas ruas, antes da pandemia, os valores cobrados diminuíram cerca de 50%. Para as prostitutas, o valor caiu devido a grande concorrência e opções que a internet disponibiliza. Entretanto, E.N, de 19 anos, conta que “mesmo baixando a hora de R$ 200,00 para R$ 60,00 e tendo que trabalhar mais me sinto mais protegida. Antes tinha medo de ir para a rua, não sei quem vou encontrar, da minha casa fico segura.”, diz. Das 15 mulheres, somente duas afirmaram a vontade de voltar às ruas. Todas as demais pretendem manter os atendimentos virtuais mesmo depois da pandemia. 

Proteção

Em 2020, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) lançou uma cartilha com cuidados e dicas de proteção para pessoas em situação de prostituição que estão atendendo de forma presencial ou online durante a pandemia. Uma das recomendações da cartilha é que as profissionais do sexo priorizem o trabalho virtual, procurando sites e plataformas que paguem por streap tease e exibições online ao vivo. O texto pode ser acessado neste link.

Texto: Bruna Santos / Agência Cariri