O jornalista Francisco José descartou, em aula aberta organizada pelo curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA), a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro não renovar a concessão da Rede Globo de televisão, que vence em outubro do ano que vem. “Vai fechar nada. O presidente diz que vai fechar a Globo, que tem que deixar de ver a Globo, que as empresas têm que tirar os comerciais, criando um rancor contra a emissora. Mas isso vai ser superado”, disse o jornalista, demitido no final do mês passado. A aula aberta ao público, realizada na última sexta-feira (17), foi transmitida ao vivo no canal da Semana de Jornalismo da UFCA no Youtube (link para uma nova página), onde é possível assistir ao conteúdo na íntegra. 

Em entrevista coletiva para alunos do curso de Jornalismo da UFCA, Chico José comentou que é comum para quem está no poder tentar dificultar o trabalho dos profissionais da imprensa. “Há uma grande interferência da política tentando prejudicar cada vez mais a existência do jornalismo sério. Nos governos Lula e Dilma nós éramos xingados na rua e chamados de golpistas. No governo atual, fomos xingados e chamados de ‘Globo Lixo’. Quem assume o governo quer ter uma televisão para falar bem dele”. 

Segundo o jornalista, embora tentativas de intimidação da imprensa tenham ocorrido em diferentes governos, a situação se agravou na gestão de Jair Bolsonaro que, além de hostilizar os profissionais, tem contribuído para disseminação de notícias falsas. Para Chico José, a proliferação de Fake News em redes sociais é uma nova pandemia. “A credibilidade dos órgãos de imprensa é testada diariamente. Os que não confiam no jornalismo são os radicais. A imprensa tem que fazer o seu papel sempre, mesmo ouvindo xingamentos e críticas sem fundamento”, destaca.

Sobre a postura do governo em relação à Rede Globo, Chico disse que “ficaria muito triste se os presidentes da República, Dilma, Lula ou Bolsonaro elogiassem a emissora. Se o governo está elogiando é porque a emissora não está criticando o governo, não está mostrando os erros, o que falta fazer. A imprensa séria tem que cobrar”.

Demissão 

Na entrevista para os estudantes de Jornalismo da UFCA, Chico José também repercutiu sua demissão da Globo, ocorrida no dia 29 de novembro, após mais de quatro décadas na emissora. Apesar do desligamento, ele disse continuar “vestindo a camisa da empresa”. A onda de demissões, segundo ele, vem ocorrendo como parte do processo de reestruturação dos contratos trabalhistas da emissora de televisão, que está cortando gastos para contratação de profissionais com salários mais baixos. “A minha saída não foi traumática, foi negociada, como todos os outros que estão saindo agora”, garantiu. 

Chico revelou ainda que jornalistas mais experientes como ele tinham salários que passavam dos três dígitos (superiores a 100 mil reais), dinheiro suficiente para a Globo contratar mais de dez jornalistas jovens. “Eles vão enxugando a folha de pagamento, dando condição dessas pessoas que saem viverem bem e ao mesmo tempo aproveitando a geração de vocês [estudantes de jornalismo que participavam da aula]”.  

Durante mais de duas horas, Chico José contou sobre a experiência de 46 anos dedicados ao jornalismo. A sua última aparição no Globo Repórter, programa jornalístico que lhe rendeu uma indicação ao Emmy, o maior prêmio da televisão mundial, será uma reportagem especial sobre o Atol das Rocas, que vai ao ar dia 25 de março de 2022. Sobre seu futuro profissional, o jornalista cratense de 77 anos comentou que está analisando algumas propostas de trabalho e que pretende continuar atuando na produção de documentários e grandes reportagens.

Alexia Mesquita e Edwin Carvalho / Agência Cariri