Desde a pandemia de Covid-19, os cinemas brasileiros têm encontrado dificuldade de retornar às suas exibições com salas cheias. Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), no último ano antes da pandemia (2019), cerca de 77 milhões de ingressos foram vendidos no Brasil. Esse número caiu para 48 milhões no ano passado. No Cariri, também tem havido uma baixa procura por ingressos e as únicas salas comerciais de cinema buscam alternativas para fazer com que esse público volte a assistir filmes na tela grande.
Na única rede comercial de cinema de Juazeiro do Norte, as grandes aglomerações vistas antes da pandemia deram lugar a salas vazias e filas pequenas. O espaço conta com seis salas de exibição, uma maior com 448 lugares, e outras menores, com capacidades que variam de 113 até 219 cadeiras, que raramente lotam. Para voltar a despertar o interesse e incentivar que o público volte a consumir filmes em cinemas, a empresa que administra as salas lançou uma campanha nacional, com ingressos a R$ 10 toda quarta-feira, independente do filme, e sem que haja a necessidade da apresentação da carteira de estudante. Além disso, este valor promocional costuma ser estendido por toda uma semana, em diferentes épocas do ano, durante a chamada “Semana do Cinema”.
“Eu deixei muitas vezes de ir ao cinema para esperar o filme no streaming. Quando você mora longe, fica mais fácil ver assim. Eu fiz isso com o novo filme do Aquaman. Tem a questão do conforto de ver em casa e de não precisar pagar. Se for um filme que eu quero muito ver, eu vejo no cinema” conta Bruno Paiva, cratense, professor de música e amante de cinema. Streaming é o processo de transmitir conteúdo de vídeo ou áudio, em tempo real, com uso da internet.
No Brasil, o serviço de streaming mais usado é a Netflix, que representa mais da metade da parcela de usuários de serviços do tipo. Um dos diferenciais da Netflix para outros serviços de streaming correntes é que ela disponibiliza conteúdos de maneira exclusiva, ou seja, produzindo e exibindo muitos filmes que não são lançados no cinema. Já serviços de streaming como HBO Max e Disney Plus, por exemplo, costumam disponibilizar filmes poucos meses depois de eles terem estreado nos cinemas. Esse curto período de tempo entre o lançamento dos filmes no cinema e sua disponibilização nos serviços de streaming tem influenciado na decisão do público de esperar e não gastar dinheiro comprando ingressos.
Uma pesquisa recente do Panorama Mobile Time, sobre uso de aplicativos no Brasil, revelou que houve um grande aumento do uso de serviços de “streamings”, por brasileiros, entre os anos de 2019 e 2023. Justamente o período onde houve a maior queda de bilheteria dos filmes lançados.
Questionado sobre o impacto que os serviços de streaming causaram no público caririense, José Eldo Elvis, cinéfilo caririense, conta que, de fato, tem se tornado cultural deixar de ir ao cinema para se assistir aos filmes na televisão. “Existe um fenômeno internacional de as pessoas ficarem mais tempo em casa, com a facilidade do streaming. Esse hábito foi reforçado desde a pandemia”. Mas, segundo ele, a principal causa desse esgotamento das filas tem sido o valor dos ingressos. “Se esse preço fosse mais barato, com certeza, teria mais público”.
Segundo o cinéfilo, ir ao cinema em Juazeiro do Norte é uma atividade de lazer cara e pouco acessível para os moradores da região. “O preço do ingresso é abusivo, o valor de estacionamento e uma série de coisas que fazem com que ir ao cinema no shopping seja uma situação complicada. As sessões nas quartas-feiras, quando tem promoção, são todas lotadas. Agora, quando sai disso e você fica a mercê do preço normal, se você não é estudante, o preço é altíssimo. Quando você pensa em ir com outra pessoa, vai pra mais de cem reais uma ida ao cinema. Não cabe no orçamento das pessoas”, argumenta.
Falta de “Blockbusters” também desmotiva
Outro fator que parece ter influenciado no esgotamento das filas de cinema foi a escassez de filmes que agradam ao grande público, os chamados “blockbusters”, termo utilizado para caracterizar filmes, geralmente hollywoodianos, que possuem uma milionária campanha de marketing a nível mundial, e que movem um grande número de pessoas até ao cinema. A grande maioria dos blockbusters que, na década passada, arrastaram multidões para as salas eram do gênero “super-heróis”, um gênero que era bastante popular entre os brasileiros, mas que, nos últimos anos, parece ter sido saturado.
Para se ter uma ideia, em 2023, apenas dois filmes blockbusters alcançaram um valor de bilheteria mundial superior a um bilhão de dólares, (“Super Mario Bros. O Filme” e “Barbie”), e nenhum deles foi do gênero de “super-herói “. Enquanto que em 2019, nove filmes chegaram nesse valor de arrecadação, sendo quatro deles filmes baseados em super-heróis, cada qual gerando milhares de vendas de ingressos e salas lotadas no Brasil.
Eldo Elvis, que além de cinéfilo também é autor da revista e grupo de estudos de cinema “Sétima”, afirma que as pessoas continuam consumindo cinema no Cariri, mesmo com as salas comerciais vazias: “eu não vejo uma diminuição do público de cinema. Eu vejo uma separação por gosto. Na hora que lançarem um filme de um gosto mais adocicado, de aventura ou de fantasia, os adolescentes e a galera que faz uma massa de público consumidor de cinema, talvez volte a se aproximar”.
Sudson Silva, assistente operacional da Orient Cinemas de Juazeiro do Norte, afirma que raramente todas as salas ficam ocupadas, já que os filmes são programados para serem projetados em horários diferentes. “É muito difícil exibir um filme em todas as salas ao mesmo tempo”. Os blockbusters, segundo ele, têm uma maior projeção devido à alta procura, além disso, “se dá prioridade ao filme que está entrando nas salas maiores, e as salas menores ficam para os filmes que já estão em cartaz há um tempo, que ainda continuam com um público bom”.
Thiago Mariano/Agência Cariri
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